O Candomblé Elétrico de Ituberá viajou o Brasil inteiro com apresentações memoráveis como a que ocorreu no Rio de Janeiro, em 1953, na Central do Brasil, que teve entre os espectadores, o Presidente Getúlio Vargas.
Um dos patrimônios da cultura baiana, criado em Ituberá, nos anos 1950, se prepara para se apresentar, mais uma vez, no Circulou, do Universo Paralello 2022. O Candomblé Elétrico, está passando pelos últimos ajustes em seu maquinário e nos bonecos que representam os pais, as mães e os filhos de santo.
Com mais de 70 anos de existência, o Candomblé Elétrico, de Ituberá, no Baixo Sul, nasceu em 1950 pelas mãos do artista plástico, autodidata, Braz Souza, ituberaense nascido no “Capora”, localidade estuarina do município, conforme explicou o tutor do candomblé, o professor Fawaz Abdel.
“Desde muito cedo, aos 12 anos de idade, a família de Braz tinha dificuldades financeiras e aquele menino saía fazendo animações com bonecos que ele mesmo confeccionava para conseguir recursos; um artista mambembe digamos assim”, explica, Abdel.
Braz aprimorou seu talento e chegou a trabalhar em circo como trapezista, saindo do estado da Bahia para fazer apresentações. Já adulto, Braz, era procurado pelas pessoas para falar a respeito das manifestações de matriz africana em Ituberá. Para criar uma forma didática de responder aos questionamentos sobre o Candomblé, Braz Souza, idealizou e construiu os 23 bonecos, confeccionados em papel, com os coloridos adereços e indumentárias do candomblé, dispostos sobre uma estrutura de madeira que se movimenta por meio de uma engenhoca formada por motores, correias, roldanas, etc.
O Candomblé Elétrico de Ituberá viajou o Brasil inteiro com apresentações memoráveis como a que ocorreu no Rio de Janeiro, em 1953, na Central do Brasil, que teve entre os espectadores o Presidente Getúlio Vargas.
"Brás Souza percorreu o Brasil com seu caminhãozinho, com sua tenda tipo circo, montava e apresentava para todas as pessoas nas praças das cidades por onde passava. Em 1953 ele estava no Rio de Janeiro quando se apresentou na estação ferroviária Central do Brasil e o Presidente Getúlio Vargas, na época, foi assistir a apresentação do Candomblé Elétrico”, contou, Fawaz.
ANOS DE REPRESSÃO E PRECONCEITO
Importante salientar que o Candomblé Elétrico foi criado numa época de regime militar e de forte intolerância religiosa, uma que vez que os terreiros de candomblé eram sistematicamente perseguidos até mesmo por autoridades do Estado. Segundo historiadores, o regime militar não perseguia os terreiros, mas agentes do Estado faziam essas incursões. “Importante dizer que o candomblé, como religião, sofreu e sofre até hoje intolerância, mas nos anos 50 era muito mais rígido com invasões nos terrenos até mesmo por parte de policiais representantes inclusive do Estado destruindo os símbolos sagrados, os tambores, os atabaques, os instrumentos”, lembrou, Fawaz Abdel.
O Candomblé no Universo
Emblemática atração do Circulou, no Universo Paralello, o Candomblé Elétrico de Ituberá, mais uma vez, estará sendo apresentado para o público que estará nas areias de Pratigi para vivenciar o #UP16.
O Candomblé Elétrico participa do Circulou desde a segunda edição do festival e de lá para cá já foram milhares de pessoas que viram, fotografaram e registraram alguma lembrança das apresentações dos bonecos ao som dos ritmos africanos. “O Circulou é uma cultura mais orgânica, arte mais orgânica, onde as pessoas do mundo todo apreciam. As pessoas chegam e pedem para ligar a fim de se divertirem e apreciarem a dança, o gingado dos bonecos, e claro, beleza das indumentárias”, disse.
O Candomblé, no Universo Paralello, funcionará todos os dias, a partir do dia 27 de dezembro, com sessões pela manhã, à tarde e à noite, no Espaço do Circulou. As apresentações vão até o dia 3 de janeiro de 2023.
Por Marcelo Dutra | Fotos: Arquivo Fawaz Abdel | Família de Braz Souza.
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